Aqui de casa
-A visão que temos em casa é tão pequena comparada com a que temos aqui fora. Até o tempo parece passar mais rápido.
-Pois é. E tenho o sentimento que, depois de um tempo, o lado de fora é como se fosse um sonho já quase ofuscando.
Levantamos, já com a conta do almoço paga, e partimos de volta para casa.
O sentimento de dever cumprido ainda paira sobre minha aura, enquanto giro a chave e a puxo com o movimento correto. É uma daquelas portas antigas, meio remendada, mas que sob um olhar desatento passa batido.
Ao subir as escadas, ouço a madeira raspando sobre metal com aromas que talvez em outro tempo fossem mais agradáveis, mas são aromas de outra terra; meu olfato duvida que um dia aquele aroma será mais do que um gosto.
Abro nossa porta. Entramos em casa. Pousamos nossas máscaras, e vamos direto ao quarto que está mais quente que o resto da casa. A janela pequena mostra o mundo do qual não há pessoas, nem muito alcance. Estamos seguros.
A ansiedade às vezes bate à porta; às vezes entra desesperada, derrubando tudo, desastrada. Não preciso nem dizer que prefiro à primeira, assim posso encará-la e mandar embora. Porém, por mais indesejada que seja, sei que ela precisa de um abraço, um cobertor e um chá. Sim, acho que assim é melhor, assim passo a conhecê-la, passo a conhecer-me.
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